Silmar Teichert Peske – silmar@seednews.inf.br | Hermann Platzen – platzen70@t-online.de
As sementes necessitam ter alta qualidade e desempenho, sendo que a qualidade se obtém no campo e se refere, entre outras caracterísNcas, à capacidade de originar uma nova planta, enquanto o desempenho é obNdo pelo tratamento das sementes, referindo-se principalmente à capacidade de superar condições adversas por ocasião da semeadura. Neste senNdo, o Brasil trata mais de 90% das sementes de soja, milho e algodão, mais de 70% para trigo e mais de 50% para arroz, isto para os principais culNvos do país. Vários são os produtos uNlizados para o tratamento das sementes, como biológicos, fungicidas, inseNcidas, nemaNcidas, enraizadores, micronutrientes, polímeros, entre outros, dependendo do desejo do agricultor. Assim, o tratamento de sementes merece atenção especial por tudo o que a semente pode carregar no momento da semeadura, sendo as principais a dosagem de produto, compaNbilidade entre os produtos, liberação de pó, cobertura da semente e segurança operacional-ambiental. Neste senNdo, a associação dos produtores de sementes de Mato Grosso (Aprosmat) conduziu um projeto para diagnosNcar a situação do tratamento de sementes de soja em seu estado, em termos de taxa de uso e qualidade do processo.
O estudo
A metodologia do estudo consisNu na tomada de amostras de lotes de sementes que o agricultor estava em vias de uNlizar em seus campos de produção de grão, sendo a amostragem realizada por uma empresa terceirizada com conhecimento na área, num total de 147 amostras, abrangendo o estado inteiro, e cuja intensidade era em função da área culNvada por município. Quanto às avaliações, estas consisNram na análise de princípios aNvos de inseNcida e fungicida presentes nas sementes (via HPLC) e avaliação visual do recobrimento das sementes. Picture Os resultados mostraram que cerca de 20% das amostras eram provenientes de tratamento industrial (TIS) de um produtor de sementes, enquanto que cerca de 80% das amostras eram originárias do Tratamento “On Farm” (TOF – aquele realizado na fazenda do agricultor). Este percentual de TIS no MT é um dos menores do país, sendo que a região Sul se destaca, com cerca de 40% de adoção. Os beneicios do TIS são vários, como: precisão de dosagem, cobrimento uniforme das sementes, fluidez das sementes, teste de caldas, redução acentuada de pó, economia de tempo, diminuição de risco para saúde humana e ambiental, entre outros. Por outro lado, conforme relato dos agricultores, as maiores jusNficaNvas para o uso do TOF são em relação à necessidade de agregar inoculante ou outros produtos momentos antes da semeadura, possível sobra de sementes e menor custo do tratamento. Atualmente, com o desenvolvimento de Inoculante longa vida (45 dias), pode-se obter sementes com TIS a tempo de realizar a semeadura; por outro lado, a situação de se colocar vários produtos no tratamento passa por testar a calda resultante, o que é realizado de forma roNneira no TIS. Em relação à sobra de sementes, estas também podem ocorrer com o TOF, sendo um elemento de gestão da necessidade de semente para a semeadura. Aspectos de custo e confiabilidade de processo (entenda-se dosagem) necessitam também serem contemplados para aumentar o TIS. Em relação à análise dos princípios aNvos dos fungicidas e inseNcidas presentes nas sementes, esta mostrou uma grande variação nas amostras provenientes do TOF. Considerando uma dosagem recomendada de 100 ml de produto por 100 kg de sementes, houve uma variação de 15 ml a 380ml/100kg, em que 68% das amostras encontravam-se entre 50 e 150ml/100kg. Outras, mais de 30% das amostras, encontravam-se abaixo ou acima destas dosagens. Por outro lado, a análise dos ingredientes aNvos nas amostras provenientes do TIS variaram de 80 a 120ml/100kg de sementes, em que 95% das amostras encontravam-se com 87 a 113ml de produto por 100 kg de sementes ( figura no texto). Os resultados realmente mostram que o TIS é produto por 100 kg de sementes ( figura no texto). Os resultados realmente mostram que o TIS é um processo dominado, envolvendo equipamento, produto e pessoal no qual o agricultor pode confiar. A avaliação visual das sementes com TIS raNficou que o cobrimento das sementes era uniforme e não havia desprendimento de resíduo, enquanto nas sementes provenientes do TOF o cobrimento não era uniforme e havia desprendimento de resíduo. Esta análise evidencia que, além de o TOF não proporcionar um tratamento uniforme das sementes, tampouco é amigável com o ambiente. Os resultados do estudo apontam que o TIS proporciona melhores e mais beneicios para o agricultor e o ambiente que o TOF, indicando que a atual taxa de adoção do TIS no MT poderá aumentar substancialmente, desde que o agricultor esteja convicto dos beneicios. Neste senNdo, os resultados deste estudo da APROSMAT colaboram de forma acentuada. Afinal, resultados idôneos obNdos e analisados de forma terceirizada evitam conflito de interesses, podendo ajudar na adoção de tecnologias. A seguir, serão comentados alguns aspectos do processo de tratamento das sementes:
1 – O tratamento industrial
O TIS consiste de três pilares: o equipamento, a calda de produtos a ser veiculada na semente e o operador. Em relação a equipamentos, estes possibilitam que produtos sejam incorporados nas sementes na dosagem recomendada, com pouquíssima variação entre as sementes e de forma uniforme (como pode ser constatado no estudo da Aprosmat). Também, para atender a diferentes demandas, há equipamentos com capacidade desde kg/h até t/h, sendo esta caracterísNca conveniente para a logísNca de distribuição das sementes na época da semeadura. A calda, por sua vez, pode ser consNtuída por vários produtos, com diferentes propriedades químicas e isicas e, uma vez misturadas, podem apresentar inconvenientes de consistência, afetando o processo do recobrimento das sementes. Neste senNdo, é essencial que a calda seja testada antes da operação de tratamento das sementes, o que é contemplado no TIS. A qualificação profissional do pessoal envolvido com o equipamento e a calda requer atenção especial, como pode ser constatado pelos centros de treinamento criados pelas empresas de equipamentos e de produtos. No Brasil, há cerca de 10 centros altamente estruturados para capacitação de pessoal que trabalha com tratamento de sementes. O primeiro já está praNcamente 10 anos prestando treinamento.
2 – Taxa de uso do TIS
O estudo da Aprosmat evidencia que a taxa de uso do TIS, no MT, com cerca de 20% para sementes de soja, pode ser aumentada, assim como em outros estados do país, pois a média nacional do TIS é inferior a 30%. É evidente que o TIS traz grandes beneicios para o agricultor, entretanto sua logísNca de distribuição das sementes até 60 dias antes da semeadura, a gama enorme de produtos que podem ser veiculados pelas sementes e a sobra de sementes, são inconvenientes a serem trabalhados. Assim, esNma-se que pelo menos 50% das sementes de soja pode, com facilidade, estar com o TIS no momento da semeadura. Há o aspecto comercial envolvendo aspectos como tradição, desconfiança, economia sem fundamento, que entram no contexto para o aumento da taxa de uNlização do TIS.
3 – Dosagem e aderência
O aspecto de dosagem dos produtos químicos merece atenção especial, pois o TOF praNcamente não consegue aplicar na semente a dosagem recomendada do produto, e isso é UM GRANDE INCONVENIENTE. A subdosagem não terá o efeito esperado para aumentar o desempenho das sementes, enquanto a superdosagem pode acarretar em danos fisiológicos às sementes (vários trabalhos evidenciam isto).
Nos dados observados no estudo, mais de 15% das sementes com TOF apresentavam mais de uma vez e meia a dosagem recomendada do princípio aNvo. Esta grandeza afeta a qualidade das sementes. É essencial que os produtos químicos veiculados com as sementes sejam ali reNdos até a germinação das mesmas no solo, e para isso produtos são adicionados à calda, minimizando a liberação de resíduos para o ambiente. O TIS contempla este processo, enquanto o TOF nem sempre contempla esta importante caracterísNca.
Neste senNdo, registra-se que em 2008, na Alemanha, houve uma grande mortandade de abelhas devido à liberação de pó proveniente do tratamento de sementes.
4 – Fluidez das sementes
O sucesso do estabelecimento de um culNvo, como registrado anteriormente, passa pela qualidade da semente e o tratamento que recebe. Desta maneira, a semente deve estar viva, forte e protegida para fatores bióNcos e abióNcos, porém deverá ser semeada com uma determinada densidade pré-estabelecida e distribuída no solo de forma uniforme. Neste senNdo, o tratamento de sementes possui uma função importante por preparar as sementes de tal maneira que tenham uma fluidez condizente com a distribuição. As sementes não devem deslizar demais, pois ocorrerá sementes duplas e triplas, e nem a menos, pois afetará a densidade de semeadura. Qualquer uma das situações afetará a produNvidade do culNvo. Em resumo, a calda do tratamento de sementes deve ser testada antes da semeadura, em relação a vários aspectos isico-químicos.
5 – As opções do agricultor
O agricultor é livre para escolher sua semente e se irá tratá-la ou não. Caso deseje um tratamento de sementes, é recomendável que se decida com antecedência caso queira uNlizar os serviços de um TIS. Considerando que praNcamente 50% das necessidades de sementes de soja no Brasil são comercializadas antes do mês de abril, para semeadura começando em setembro, isto significa que o agricultor também pode fazer esta decisão em relação ao seu tratamento de sementes, obtendo de uma só fonte a sua semente tratada. Deixando a decisão para a úlNma hora, provavelmente não terá um TIS. Outro aspecto a ser considerado no tratamento de sementes é que, felizmente, há vários produtos biológicos e químicos de comprovada eficiência à disposição do agricultor, entretanto a compaNbilidade dos produtos deve ser observada no momento da escolha. O agricultor tem a opção de escolher a variedade que assim desejar, bem como o tratamento que irá utilizar, no entanto é importante que faça a decisão alguns meses antes da semeadura, pois são muitas as variáveis que entram no contexto de se ter a quanNdade certa de sementes com o tratamento desejado. Sabe-se que a distribuição das sementes pelos produtores é uma operação de guerra.
Situação na Alemanha
A Alemanha trata mais de 70% de suas sementes com o TIS e pouco mais de 20% com o TOF. Entretanto, mesmo os agricultores que fazem o TOF devem utilizar procedimentos para minimizar a liberação de pó das sementes tratadas (inferior a 4g/100kg ou 2-5g IA/ha). Após o acidente com as abelhas em 2008, envolvendo a liberação de pó das sementes tratadas, os produtores de sementes, a indústria química e as autoridades governamentais acordaram em adotar um esquema de segurança para sementes de milho, beterraba e colza, enquanto para cereais está em desenvolvimento. Assim, a parNr de 2011 há um procedimento padrão para o TIS, que é voluntário; entretanto, há pressão para que seja compulsório em centros de tratamento de sementes credenciados. Os produtores de sementes também distribuem um panfleto com os cuidados a serem observados com a semente tratada desde a origem do tratamento, passando pelo transporte, revenda, sede do agricultor e semeadura. Comentário Somente sementes de alta qualidade com tratamento de sementes adequado pode garan8r o alto desempenho da semente tratada, observando a segurança do operador e do ambiente. Todas estas precauções para com o TIS são diCceis de serem ob8das no TOF. Muitas são as ocasiões em que os agricultores não possuem o conhecimento para escolher o agente de recobrimento a ser u8lizado na calda de tratamento. Resumo O tratamento de sementes é largamente u8lizado para aumentar o desempenho das sementes, u8lizando para isso produtos biológicos e/ou químicos. Os produtos mais u8lizados são: fungicidas, inse8cidas, nema8cidas, inoculantes, enraizadores, micronutrientes e polímeros. fungicidas, inse8cidas, nema8cidas, inoculantes, enraizadores, micronutrientes e polímeros. Todos estes produtos possuem uma dosagem recomendada, que deve ser considerada no momento de se tratar as sementes. Neste sen8do, a Aprosmat realizou um estudo no momento da semeadura com o obje8vo de verificar a qualidade do tratamento de sementes quando realizado de forma industrial (TIS) ou na fazenda (TOF).
Os resultados apontaram que:
1 – No TIS, 95% das amostras encontravam-se próximo à dosagem recomendada (± 13g/100kg), enquanto no TOF, 67% das amostras encontravam-se com 50 ml de produto a mais ou a menos do que os 100ml recomendados por 100kg de sementes;
2 – As sementes oriundas do TOF tendem a apresentar uma má cobertura;
3 – cerca de 20% dos agricultores u8lizam o TIS, enquanto pra8camente 80% u8lizam o TOF.
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